Tipoia

Inoperante, por Otávio Conceição 

É notável como o cinema pode ser atemporal em certas situações. Como ele pode ressignificar o que já foi dito para reafirmar o presente.

Estamos em um processo de espera, de cura e de inquietação. A sensação de que estamos vendo as coisas acontecerem sem a nossa interferência diária é algo novo e revelador. O que acontece quando não interferimos? Existe mudança? Acho que seria a primeira vez que não temos um vislumbre do futuro. 

A escritora Octavia Butler em uma de suas frases mais célebres diz: 

“Tudo que você toca você muda, 
Tudo que você muda, muda você. 
A única verdade que persiste é a mudança. 
Deus é mudança.” 

“Tipoia”, do Paulo Silver, expressa bem a inquietação atual. A sensação de ter que ficar em modo inoperante, ver as coisas acontecerem sem o nosso toque, ansiando o fim do tratamento para que o processo de cura seja finalizado (inclusive o próprio nome do filme exprime bem isso), é algo que me fez sentir levemente otimista, mesmo que o filme não passe essa mensagem, na verdade ele vai contra a maré e termina como a própria sinopse define o filme: “obra inacabada, antes que seja tarde”. Porém, mesmo com o alargamento do tempo, podemos nos agarrar ao sentimento de que tudo é mutável, essa é atualmente “a única verdade que persiste”. Mesmo sem o nosso toque. E isso é bom.  

Tipoia (Alagoas, 2018, 16 min.)

Direção: Paulo Silver – paulo_andre1204@hotmail.com

Sinopse: Obra inacabada. Antes que seja tarde.